Aparelhos gessados, uma "arte" que está morrendo.
Foram os tempos, em final do século passado principalmente, em que o "gesso era o cartão de visita do ortopedista" e a arte do ofício era passada de geração em geração de formandos em ortopedia ou de técnicos de imobilização gessada. Os "técnicos de gesso", reforço, que já têm profissão regulamentada em alguns Estados do país, entretanto devem trabalhar sob supervisão e "assinatura" final do médico ortopedista, segundo a própria SBOT ( Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia ).
Em 2018 a própria Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia já trazia a discussão do tema sobre a "morte da arte". Era uma questionamento provocativo, justo e temporal. Na matéria há recomendação de dois antigos mestres de profissão, artesãos na arte de "rodar" um gesso.
Como preceptor de residência médica desde 1999 venho percebendo uma assimetria de interesses e cuidados de formação dos novos ortopedistas. Nem na prova de título de nossa sociedade maior, realizadas anualmente em Campinas-SP, a nossa prova do TEOT (Título de Ortopedia e Traumatologia), a correta confecção dos gessados é cobrada. Calhas gessadas, trações cutâneas, gessados de extremidades foram e estão sendo ignorados na cobrança e formação dos novos ortopedistas. Técnicas e mais técnicas cirúrgicas, das mais diversas, modernizadas e de alto custo, são corretamente avaliadas na indicação e conhecimento dos novos médicos especialistas. Do nosso ponto de vista a formação vai se fazendo mais elitizada quando se cobra mais a Artroscopia do Quadril, como exemplo, no lugar de uma boa calha gessada inicial. O dia-a-dia do médico ortopedista será a confecção de talas e enfaixamentos. O alicerce e não o telhado deveriam ser um dos principais focos.
Este formador de opinião e gestor em saúde indica algumas possibilidades da morte dessa arte. Não teremos nem IA e nem Robôs fazendo. A relação médico-paciente na confecção do gessado está desaparecendo e é palpável. Eis algumas possibilidades na origem deste instável futuro da arte:
possibilidade política: a demora e pouca clareza dos técnicos de gesso com a regulamentação. Não há concursos públicos na área. A relação artesão e aprendiz vem acabando nas unidades públicas;
possibilidade econômica a pressão mercadológica pelo tratamento cirúrgico e diminuição de custos da cirurgia ortopédica afastaram o gesso como opção definitiva de tratamento;
possibilidade científica: de fato desenvolvimento de implantes trouxeram diversas vantagens para o paciente. O surgimento e aprimoramento das hastes bloqueadas de tíbia são um exemplo desta evolução;
possibilidade na formação: há uma quebra de paradigma em andamento com surgimento de "pós graduações" onde não há foco no exercício prático da Ortopedia "raiz".
Há cursos formadores de gesso ortopédico com iniciativas bem localizadas. Recentemente encontramos um "infoproduto" do Hotmart sobre Técnicas de Gessado. Quem quiser experimentar fica a sugestão. Deixem suas opiniões nos comentários sobre o texto ou se tem vontade de saber mais sobre o tema.
Para quem se interessar em fazer um Curso na Area, aqui pode ser um bom início: https://go.hotmart.com/H96807266H
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